sábado, 10 de dezembro de 2011



caminho-te nas flores dos pés e das mãos que conheço

caminho-te nas águas dos olhos onde me deito

caminho-te nas rochas dos dias do peito

                                                           e subo,  e desço


                                                                                    pelas marés da saudade de TI

                                                                                                          (caminhada e foto: Susana Duarte )

sábado, 8 de outubro de 2011

Mãos... e um Penedo

.no Penedo onde mora a Saudade, dei-te as mãos e sonhei a aurora.

.nas ruas onde moram segredos, dei-te as mãos e construí a caminhada.

.nas tuas mãos, residem os segredos das ruas e do Penedo.





.não sei das minhas. levaste-as contigo.





Poema de Susana Duarte

Pintura de Nicoletta Tomas

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

.fala-me de coisas simples e sagradas, de flores de linho bordado e de palavras encantadas.

.fala-me da magia e das estrelas azuis; das serenatas enlouquecidas, na pele que escreves

                                                                             em notas de música perdidas na noite de que sou refém.


                                                                                                                                               Susana Duarte

domingo, 11 de setembro de 2011

Crescem, por entre os cabelos,
                         estrelas de luz e sonho que,
                                              por entre fios de luz negra,
                                                                   nas tuas mãos deponho... raiada
                                                                                              da luz de uma noite antiga,
                                                                                                                                            
                                                                                                                              entoada por ti
                                                                                                                                  na aventura de mim.

                                                                                                                                           Susana Duarte
.escreve-me nas flores da tua alma, como escreves o azul dos espaços dos meus olhos. .escreve-me nas janelas que abres, e nos caminhos-de-ferro que percorres nas tardes em que as partidas se transformam em corvos soturnos. .escreve-me na vida das vidas que vivemos, e nas orvalhadas em que acordamos e nos sabemos sós, eu em ti, tu em mim. Febre da chegada e do sabor da flor e da noz. .escreve-me. .serei o mapa dos trilhos que percorres. Foto e poema: Susana Duarte

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

VIDA

Vou escrever palavras soltas na calada da noite, invocando os sonhos das eras anteriores e das vidas que passei. Estavas lá e fotografavas momentos e impressões, calando as lágrimas que deixavam rasgos na pele e nos ossos e na boca. Escreverei as saudades na pele da tua imagem e nas aves que tens dentro, e fora, e em Ti. E em Mim. Somos, dizes. E sabes da terra e do assombro das luzes e das nuvens e das árvores de pé. Os mistérios das ruas são teus. Guardas, na Vida, a vida e a morte e o renascimento, e todas as vidas vividas e caladas em que o Destino se não cumpriu. E reténs nos olhos a luz que me alumia os passos, me ilumina a memória e me faz viver em Ti. Terra. Terra. Luz e Vida e Solidão diminuída, solidão que desistiu de ser, porque a vida se encheu de VIDA! Susana Duarte

domingo, 28 de agosto de 2011

Veias

.apetecia-me rasgar as veias
com que desenho as asas,
com que arrisco o voo,
com que derrubaria
ameias.
.apetecia-me rasgar as veias
com que desenho casas,
com que invento azuis
nos arabescos
da alma.

Susana Duarte

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

.ama-me.





.ama-me.
.ama-me como se fosse fácil.
.ama-me como se fosse o caminho
do dia, iluminado pela fresca luz da manhã.

.ama-me.
.como se o dia se tranformasse
e o caminho se fizesse com asas soltas
e as flores cantassem litanias de um amanhã.

.ama-me.
.como se a noite que me habita,
fosse apenas a voz de um corvo que foge no voo
e se esconde atrás das nuvens chorosas da tempestade.

...pois a tempestade que me habita
é a noite do fogo e da asa sem cor.
.e a viagem que faço é oração e dor.
.e é de amor que o coração crepita.

.ama-me.
.ama-me como se fosse fácil.

Susana Duarte

Baía

na baía, encontrei uma concha
e os olhos da lua, num pôr do sol distinto e
inscrito na maré baixa, onde deixei um pé preso nas algas
e me tornei o sonho de uma sereia que, na praia, criou pés e,
distraída,caminhou em eternos sonhos de orvalho, recitados num teatro
onde a luminosidade estranha da noite a deixou perdida nos recantos do mar.

tornei-me navegante dessa concha,
consciente do tempo passado e futuro, que pinto e
habito, como se uma tela me deixasse eternizada no mar que salgas
e transformas em chuva pálida na manhã serena. Somos nós, nas marés,
que criamos cenas da vida que escorre na areia e deixa marcas de pegadas
nos locais onde somos, em cada luar, seres mágicos e indistintos. Navegar.......


Navegar é o sonho cavalgado pela lua cheia numa onda que não há. Mar.


Susana Duarte


terça-feira, 23 de agosto de 2011

LEXEMA





Vou renascer na foz de um poema,
e dá-lo à noite, para que me reconheça.
Nessa foz, estranha e larga, onde o rio se insinua
no altivo mar, serei a vaga lenta que me torna nua
e, sem estrelas, sem lua, sem que lhe peça,
sei que a foz me fará palavra. Lexema.

Onde o único significado do meu nome
é ele próprio, nada mais. Onde a fome
de Ser eternidade, é apenas o devaneio
de, um dia, ter sido aquilo em que creio.

(Susana Duarte)

sábado, 20 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nuvens-Eros


morde os braços,
na ausência das nuvens
onde Eros e Psyché deram as mãos.

no silêncio da altura vislumbrada,
na raiz das virtudes e de todos os embaraços,
eis a noite sonhada dos abraços
e dos corações descobertos
_________________

em céus encobertos
onde as nuvens
apenas
iludem.

Susana Duarte

domingo, 14 de agosto de 2011


Voo.
Voo.



Vou?
Vou mas....oh..
sem asas e sem céu,
sigo o caminho

(que não sei se é meu).

Habito uma ave de asas
incertas
em praias noturnas,
em praias desertas.

Habito a montanha
onde o cume de neve
me esconde o voo
e não torna leve

(a peregrinação).

Ave estranha
de sons incompletos
nascida na noite
de vários desertos,
habito uma casa
de flores guardadas
e telhas içadas
que me tapam a nudez
de não saber

para onde voo.

(Susana Duarte)


haveria.


haveria flores no chão que piso,
se a cada passo florisse a ousadia
de ir um pouco mais alem. o riso,
e o pão de mel que espera à janela,
e na janela me detem. haveria
sorrisos nas estrelas que vejo,
se soubesse o sabor desse beijo
que me olha a partir da nudez
da noite. e a lucidez seria despida,
e a vida, mais vivida, se ousasse
olhar as telhas e levantar do chão
as coisas velhas que me agarram
a um bau, no sotão de uma estoria.
e o vermelho de uma cereja rubra
que desfiei com dentes na noite,
seria o vermelho de um poema
desfiado, candeio que ilumina
a noite dos pescadores e das sereias.
haveria flores no chão que piso,
se as estrelas me sorrissem, e vissem
em cada grito, o uivo e o lamento
das alcateias irmanadas que ululam
a gloria e a força da caçada. haveria.

haveria gritos nas mares e ondas sibilantes.
e gatos nas esquinas onde procuro a sombra
de poetas distantes. haveria um sol em cada
lua, e uma ave nova,azul e alada, na rua.

Susana Duarte



loucura





a noite choveu lágrimas de uma aurora madura,
madrugada de saberes de uma ladainha obscura
em que o canto e a voz são a torre de menagem
onde escondi o brilho da areia e da plumagem....
fiquei presa nas lágrimas da noite e do castelo
sem dono, e deixei lá os meus cabelos invadidos
pelo outono das incertezas. queria ser tudo, e não
serei mais do que as possibilidades do coração...
que se entoa num carme cantado na noite da ilusão.
pensava que tinha dentro as canções e a ternura.
no fim, talvez, afinal, germine a semente da loucura.

Susana Duarte

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Luz

.luz.
.nasce da noite dos teus olhos e expande-se sobre o mundo.
.luz azul que se debulha num milheiral onde, antes, reluzia
o doirado milho. luz que deambula nas margens de um rio,
procurando o caminho onde os abismos são apenas o piar
de uma ave pequenina que reluz na noite...e o rio desagua
na foz de uma clave de sol, onde sei que vive uma paixão.

Susana Duarte

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

lágrima

Uma lágrima habita os poros da noite.

(Os poros da noite são lágrimas espalhadas).

A noite é uma sereia alada que pernoita na lua.

(A lua habita a lágrima e deixa pó de estrelas nos seios).


A noite anseia cabelos e vozes e carícias e sons ciciados e músicas.
As músicas são joelhos tocados pelas estrelas cadentes e entremeios
de rendas feitas por mãos que esperam e segredam ladaínhas na rua.


A noite anseia árvores que se agitam ao vento, e cantam segredos
de amantes esquecidos. As lágrimas são seios de desejos erguidos.


É de noite que a lágrima se desfaz em pó,
como se a mulher que a chora estivesse nua.



Susana Duarte

terça-feira, 2 de agosto de 2011

mar no poema






.poderia escrever,
ecoando nas notas a pena
que escreve palavras tristes e sós.



.poderia fazer da noite
um mistério pequenino, onde habita
a palavra que sonho nas asas e nelas escreve: "nós".



.poderia escrever,
ecoando nas ruas desertas,
a palavra que me deste e me habita.



.poderia sonhar ternuras,
calor de noites que deixam de ser escuras
e onde a flor da manhã é a flor que me reabre e agita.



.poderei, um dia... dizer, dos sons dos poemas,
que são ondas do mar onde me tornei sereia.

Susana Duarte

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

eu-em-ti

.queria ser vôo e ser horizonte.
.numa praia deserta, ser a vida e a fonte
que te deixa ser asa e remo, nave e mar navegado,
fruta morena em terreno desbravado, onde se verte a lua
e navega a noite, ao som de um violoncelo-mulher-despida-de si.
.encontrar-me no horizonte onde os olhos são estrela do norte, e sou eu-em-ti.



Susana Duarte

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Magnólias são candeeiros....

Há magnólias e açucenas no caminho percorrido em cada história;
deuses presentes na permanência da memória. Deuses cuja estória
afasta medos perenes e momentos de sonolência, onde flores murcham,
e ondas marulham... nas vozes desses deuses: alienados de um mundo onde
os sonhos parecem sons estranhos, de apaixonados silentes num beco escuro, e
as magnólias são candeeiros que iluminam o caminho percorrido por passos...
estranhos. Entranhados na noite. Estranhados por si próprios. Saberão
para onde caminham? Por que becos vão? Por que estradas...
....por que noites...por que fontes....por que horas ensaiadas
em anseios de noites estreladas onde viajam anjos crentes.
Talvez fadas....talvez duendes brincalhões, que tapam
as pedras do caminho e permitem ilusões. Onde?...

Onde?....


Susana Duarte

domingo, 24 de julho de 2011

URGÊNCIA

.abro-te os lábios com a urgência
de quem desce as águas fortes de um rio
e, nelas, não pára a corrente que me conduz
ao eterno que em ti reside e me leva às tuas pernas
sobressaltadas onde a luz dos teus beijos te eleva o corpo
na voz da noz da flor do desejo. da flor da paixão. onde te sei.


Susana Duarte

sábado, 16 de julho de 2011

Agora

.inscrevo ondas na paixão soturna do canto das aves.
.escolho naves onde se fundem poemas soltos e naus.
.inscrevo pares de pés na caminhada solta das naves.
.esqueço a tarde e voo para ti; parto de onde sou ferro e paus.
.contigo, torno-me rio e flores, e alma e sul e real e agora.




Susana Duarte


(QUADRO DE NADIR AFONSO)
.invadem-me. tomam conta de mim.
.fantasmas sem asas e de noites sem fim.

...não sei, mas pressinto... que não sei onde estou.

.procuro-me na luz do regresso. procuro-me na luz de mim.
.procuro o brilho das cerejas rubras-negras e das flores-açucena-brancas.
.procuro a fonte das sementes onde me sorris e me sonhas. e acenas. e andas...

...andas sobre as cinzas e não antevês os dias de sol. Vida em caracol. sombras.

.sombras.

.sombras.

.sombras....

Susana Duarte

quarta-feira, 13 de julho de 2011

.escrevo o verão no teu rosto.
.escrevo o pão na tua fome.
.escrevo o teu nome nas ruas.
.escrevo as minhas mãos nas tuas.
.escrevo versos onde te sei luz e flores.
.escrevo-te no corpo, onde vivem sabores.
.escrevo-te a pele na pele na pele dos ossos
onde moras e ris e vives e comes a maçã do meu rosto.


terça-feira, 12 de julho de 2011

.meu sol e meu mar. meu azul e minha lua.
...transparente verdade da minha alma...
.meu girassol no verde do campo e da rua.
.serena amplitude de tua presença calma.


domingo, 10 de julho de 2011





em crescendo
soluça em mim a noite
que quero ver nascer de meus olhos
quando as ondas me prolongam o tempo e os sonhos
e a música tocada pelos teus dedos é o toque de harpista delicado
que me envidraça na cúpula dos seus olhos e me faz tremer as mãos e a voz.

Susana Duarte





Talvez seja apenas
uma canção de embalar....ou um grito
voltado para a luz
que nos brilha dentro do corpo.
Pode ser uma flor ou o mar,
ou a violência de um sentimento....
Poderia ser a maçã
comida a dois, ou a fruta que cai
da árvore, antes ainda do amanhecer.
Mas será, antes,
a flor
que nos tinge de vermelho
o rubro desejo
de cada noite.

Susana Duarte

segunda-feira, 4 de julho de 2011

CEREJA

Será do violoncelo-mulher finita- ou das notas-fruto alado....
...será da noite-escura, será do fado. Fado-eterno-descontente,
ou apenas da semente, onde poiso os olhos e sonho águas.

Afinal...serei sereia, ou talvez ave sem asas. Grifo, quimera,
Ilusão. Talvez seja, afinal, a eterna procura de uma cereja
__________que tempere a estranha solidão_____________

ÁGUA

Todos passaremos pela terra e seremos borboletas finitas,
cavalos de fogo em terras de paixão inclemente e flores
do deserto em chão eternamente quente, de sáfaras e dores
onde deixaremos as cores e os olhares onde infinitas mágoas
se plantam nos pequenos catos do deserto onde vivemos.



sexta-feira, 1 de julho de 2011

vou escrever uma flor no suor de um poema
e, da canção de amor, farei um sol, no tema
que se inspira no rosto que me visita os dias,
e me interioriza nos caules de plantas-memórias,
e de fotografias disparadas ao luar do tempo.

terça-feira, 28 de junho de 2011


.queria-te comigo na noite do ser. e doce flor seria no secreto adormecer.
.guia-me na noite do silente coração. e não deixes morrer. não deixes morrer
a serena paixão. a árvore és tu. a araucária alta no jardim. onde plantas
árvores, plantas-me, a mim... na infinitude da altura da vontade de voar.
.sei de ti. sabes de mim. plantas etéreas, noturnas, marinhas. plantas de amar.

domingo, 12 de junho de 2011

Cerejas são corações de um verão que se aproxima.
Trigais de campos louros, onde a moranga se avizinha
e te transforma no seio da noite e do fado. Ritual
de uma manhã em que descobri o som da eternidade
__________________perfumada__________________.


Susana Duarte

faltas-me

...e, a cada dia que passa, sinto-te a falta, aurora azul
das magias que partilhamos, sabedoras das aves raras
sobre cujas asas voamos, quando a cúmplice e eterna
noite, nos encoraja a ir além de nós e dos cumes de neve
onde choram saudades antigas e o amor se torna leve.
___________________faltas-me____________________



(Susana Duarte)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ocultas sob as pedras, eis as eiras do caminho.

Cada passo desoculta a noite do abismo.

Cada passo é um ramo de alecrim

que destapa o vinho,

telurismo

de ti

em

mim.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Poema de Edward Estlin Cummings

Chamar a Si Todo o Céu com um Sorriso



que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos

que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens

e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um sorriso

E. E. Cummings, in "livrodepoemas"
Tradução de Cecília Rego Pinheiro

domingo, 22 de maio de 2011

POEMA

O tanto de sonho
que cabe na mão
é uma lira sem dono
entoando o poema



(Susana Duarte)

sábado, 21 de maio de 2011

NUVENS-FLORES




Nuvens - flores, brancas, na doce e leve saudade...
céu azul onde o riso levanta a voz e a sonora inscrição da ausência.
Sabor branco de leveza e de branca intensidade,
prolongada em fios brancos que se derretem no cimo da inocência...
e as palavras habitaram tardes de eternas laranjeiras...
e a menina escrevia palavras perfumadas de floreiras....
onde pontificam, gloriosos, dedos de flor em riste
e dedaleiras de um sonho pintado...sons que tu ouviste.
Atendendo à voz branca de uma menina, que escreveste
numa praia, deserta, branca, de um litoral estranho a ti.
Longínqua.


Tardes de nuvens praieiras. Onde mora a minha voz.

Susana Duarte (poema e foto)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

CAMINHO




Abandonei-me ao sol.ave-do-paraíso de teus olhos
e, numa música feita de caramelos e fios de seda...

...abandonei-me à boca.luz.corpo.vontade
de ser ave.sede.ternura. onde se demora
……………a vida e acaba a procura……………..


Rendi-me nos dias.noites de eternas.praias
onde se escondem algas marinhas.peixes azuis.
... e o horizonte.caminho.infindo falou
do dia de memórias.infantis de laranjeiras
baixas e flores.brancas.silvestres que deixam recados
de meninas sonhadoras e ternos namorados
perdidos no milho.semeados nas eiras
onde se entregam a beijos e deixam brincadeiras
no caminho de onde vêm. Construindo futuros
e semeando passos despidos nos campos.fertilidade
risonha de rituais.antigos.crescidos em luas feiticeiras.


Susana Duarte
(poema e foto)

sábado, 14 de maio de 2011

CÍTARA


A cítara que te toca no momento do Poema,
é a mágica-contenda-eterna do lexema e do grafema
que, em noite enluarada de pelejas de palavras e emoções,
se estende sobre ti, sobre a pele, sobre as mãos, os corações
e as notas...as notas cantadas em séculos de estórias de amores.
Desamores. Encantamentos. Tristão e Isolda...numa pena que aflora a cítara.
Talvez, desta vez, a pena se demore num tom. Tom de tom, de tom de flor escrita,
de flor falada, no alto de um monte, no decurso de uma estrada, via de asas, sons de passos eternos, misteriosos e ternos, doces citaredos iluminadores... de momentos. Presságios. Sinais de imensos mares em nós. Sós?
A Cítara é um amor-perfeito de cores e imaginação. Ebulição
de um sentimento, na escrita de uma tisana que acalma,
e descreve um círculo no âmago de uma estrada.

Caminho que percorre, numa nota perdida.
Via que descreve, numa música esquecida.
Olhares que se encontram num cruzamento.

Mãos que se afloram. Efervescência de uma lira



Susana Duarte


MARÉ




Escrevo-te o Poema da Canção que és.

Palavras de um Poemário que inscrevi nas marés.

Onda viva de um itinerário que descubro no sol intenso,

pura Luz de um momento que, de vida, se fez maremoto

e, vivo, de noites em que a estória se adensou, enrubesce de Poemas.

Descubro-te no sorriso, e no olhar que inscreves nas veias de um terremoto

...................na mão........................
.................de uma praia..........................
.............onda que em mim habita..................



Música que aplaudes. Sinfonia de um toque.......... onde a maré não te derruba.



(Susana Duarte)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

CIRROS




Cirros são rododendros brancos, de neve nos jardins,
floridas margens de nuvem, nuvem que passa no céu
e, em dia de azul eterno, se declina nos meus sonhos.

As nuvens são torácicas, se brancas e passageiras.
Vida de água, em vida espalhada pelo espaço celeste.
Viajantes de caminhos alados que não posso alcançar.

Cúmulos são afetos de algodão e humidade, envoltos
na superfície de uma grande ambiguidade… ora brancos,
flutuantes…ora escuros e distantes. Lua branca sobre nós.

As nuvens são momentos suspensos da respiração,
quando a vida surpreende e os obstáculos se interpõem.
Densidade de filamentos que impedem a compreensão.

Nefelibata. Nebulosa que se ergue no poeta em confissão.

Susana Duarte

quinta-feira, 5 de maio de 2011

ALINEGRO





Há um caminho oculto sob as pedras
levantadas do chão com esporas
que, iluminadas de fogo-ar,
queimam o sol das ervas.
Sob o arco do espanto,
arco iluminado de voz e canto,
entendes os signos e os sinais
multiplicados pelos ventos do afecto.
Sob as unhas guardo a pele
que tirei aos sonhos em dia de sol
e, numa noite sem fim, amei
cantando o verso solto que sai de mim.
Escorre água sobre as pedras
que, lisas, escorregam em si sonhos
de paz. Seixos brilhantes
sob a luz que ilumina as asas.
Pedras luminosas que escorrem luz.
Luz nascente de jasmins em flor.
Flor do canto do espanto do sonho.
Sonho do caminho dos passos que dou.
Dou. Espero. Sonho. Exijo. Quero.
Quero o caminho aberto sob as pedras,
Levantadas do chão com a leveza
da estrada solta sob os meus pés.
Há azul no meu chão. Há azul no meu céu.
Há azul intenso a clarear o breu.
A noite cessa e, logo, a manhã dealba.
Talvez, hoje, o real seja meu.

(até lá, vou procurar as asas.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

PAUTA



Pentagrama de linhas horizontais
onde se inscreve a sonoridade
da ausência,
de um olhar - ambivalência
que se lê nos vitrais
de uma antiga saudade
onde moras tu, na aderência
da pele e dos ossos que avivam
a vontade de ser.


Susana Duarte

terça-feira, 3 de maio de 2011

Peixe-azul




Peixe azul-vivente-calmaria-em onda rasa...
Peixe de vida nascida na maré de uma brasa.

É onde a tília escondia, encostada na tua vida,
a nascida calmaria de uma insuspeita maravilha
....onde a feiticeira, prisioneira de um olhar....

voluntariamente

...se deixou, eternamente, naufragar...


Susana Duarte

domingo, 1 de maio de 2011

Pas de deux

Dança, comigo, o pas de deux que a vida inscreveu em ti,
que a vida inscreveu em mim, que o adagio das palavras
anunciou na madrugada e o azul do mar elevou em nós.

Dança, comigo, o pas de deux que a ambrósia iluminou
numa dança de vontades, sob o perfume de uma magnólia
magnificente que os teus olhos atravessam de lua e brilho.

Dança.Dança, comigo, o pas de deux inscrito em nós.


Susana Duarte

ESPELHO

Escrevi, num espelho, um diário de flores
e neve. No temporal da memória, ascendi
a cores de um céu derramado na álea de
tílias, onde repousei as encostas deste rio,
que sucumbe ao olhar eterno de uma flor
descamada de peixes azuis que voam na
superfície de um mar imenso. Noite que se
anuncia e nome que se pronuncia, onde as
estrelas que chovem sorrisos, empurram
lágrimas para dentro dos risos, que aprendi
a dizer. Nome inscrito no espelho, que fala
de mim. Espelho que me devolve o riso, a
cor, o sorriso, o suave toque de um rosto
...............carmim, onde moras........


Susana Duarte

ARABESQUE

Vou desenhar um arabesco no cabelo de uma flor. Um bailado
de uma noite em teu olhar e teu calor. Uma dança, uma maré
de estrelas inauguradas numa praia de algas verdes, dançadas
por ti. Dançadas por mim. Dançadas na chuva estival de uma
noite de Perseidas. Talvez seja fruto alado, a estrela que
te guia. O candeio que te alumia, e a ave que te percorre.
Em teu sangue, nada morre. Em tua veia, de serena alegria,
a dádiva da gota de água, que o Silêncio desenha na estrada…
onde sei da Alegria, e faço o percurso, e corro no mar, e ando
numa nuvem, e deixo de remar, e sei que cheguei, e sei onde estás,
e transformo o arabesco numa nuvem de eternidade, desenhada
numa flor, onde vives, sem idade e sem morada, sem deserto,
sem ter nada, senão a absoluta cumplicidade de um olhar
onde uma gruta foi escavada pelo vento que eu era. Era…
Semeei a espera que é dádiva e é dança. Um ornato numa
esteira que é fio e contradança. Florear a letra, na imagem
onde uma bailarina rodopia, numa Coda, final de uma
bela coreografia. Em teu nome, danço flores.


Susana Duarte

terça-feira, 26 de abril de 2011

AURORA planeada






Planeei uma Aurora...

onde todos possam saber
a magia de amar e querer
o doce toque de umas mãos...

Planeei uma Aurora...

onde a ventura de ler os olhos
de quem ama e sorri,
e neles vive,
seja presente em cada raio
breve
de LUZ.

Planeei uma Aurora...

onde se vive como se,
lá fora,
apenas
deserto houvesse.
Apenas
chuva caísse.
E as magnólias fossem dedos de chuva...
...fossem dedos que se expandem das mãos


e atingem o céu,
a partir de onde conseguiria ver


cada momento teu.


(Susana Duarte)

ABSINTO






Fala de mim, se a suave mão da noite te permitir sonhar…

_______________________________________________

Se a ave da noite soar uma nota que conheças, e o teu sonho

……….abraçar a pedra que rola do alto de um penhasco……




… se a tua voz for a eterna chuva que dilui a areia do deserto

(e traz sementes que, no seio de um raio de sol, germinam)…




… se a tua voz for o canto sereno e o encanto terreno de uma

camponesa ………….que ergue o braço que segura o trigo……..




…fala de mim, na seda que inscreveu caracteres orientais na pele…




Fala de mim, se a seda da pele for a palavra que inscreves no ar…

______________________________________________________


Se a voz entoada na raiz do poema for a luz que captas na fotografia
…………………………..da razão que agora abandono……………………………



…se a flor do deserto for a sonora asa de condor que em ti ostentas

e trazes, soturna, em imagens que os sonhos embalam no azul onde voas.




…se és a Canção que a rua dedica a uma lua que se fez feiticeira e, de ti,


trouxe a pauta onde escrevo notas invisíveis de um teclado sonoro de gritos



……………………………………………….mudos…………………………………………………..

................fala de mim…. Ou seremos apenas enigma…………………..


Caracol de cabelo escondido num grifo. Grito mudo que consinto. Absinto.





(Susana Duarte)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

DANDELION





…Cada letra do teu nome foi inscrita na minha pele…
Cada verso que escrevo, é escrito nela, é inscrito nele.
____________________________________________
Soprei ao vento as letras com que compus o teu nome,
para que cada uma delas se enchesse da minha voz
e gritasse o encanto com que te escrevo, com que te canto.

E, no vento quente do deserto, deixei arder a minha noite
nas letras que escrevi. Nas letras que conheço…e falam de ti.

Saberias, pela voz do vento, que em ti residia o pensamento.

Silêncios noturnos que acontecem em mim, na escolha das bermas
onde deixei repousar as pétalas que soprei. Repouso onde me sei
a teu lado.
Cada pétala é uma letra onde, com canetas de arroz e mel, escrevi
a palavra que descreve o caminho onde construí uma estrada larga.
Cada caule é um tronco de cerejeira onde florescem rosas de chá.


Cada dente-de-leão é uma semente que se espalha no sol do meu dia,
janela que se abre na tarde da expectativa e pegada inscrita em mim.

… Dandelion. Flor de licor de sementes e inflorescências. Alegria…

(Susana Duarte)

domingo, 24 de abril de 2011

NOME

...
É na noite que se escreve o Poema que tem o teu nome e a tua voz.
É no Silêncio que se inscreve a forma que nos transformou em Nós.
Na hora marcada pela Quimera e a Ilusão, deixei a palavra voar
e seguir-te os olhos, até onde reside o Idílio da nossa Paixão.
Poemeto que trago nos dedos... e nos dedos trago a Mão
que anuncia a carícia e a Rapsódia da devoção
ao olhar que tornei meu. Cantata.Poema
de Amor. Canção à noite escrita,
fragor. Eterna Aurora.
Mão em mim.
Mão em ti.
Nós.

Poema e foto Susana Duarte

Eternidade

Chorar as lágrimas do espanto
de te saber flor em mim.
Canto
que a noite encerra. Jasmim
em flor. Jasmim feito amor.

Primavera que encerra o cálice
que bebi em teus olhos.
Derrama
as palavras que nutrem o âmago
de uma caminhada em espera.

Suspensa no olhar que ama
a via que se percorre,
que desespera na água que se solta
da noite e

chama


pelo caminho que o sol faz reluzir

e pelo brilho de uns olhos eternos.

Susana Duarte

quinta-feira, 21 de abril de 2011

MARAVILHA

A maravilha é um malmequer do campo,
o espanto, a admiração... se, serena a luz do dia,
me escondo na floração de uma asa, de luz e cores em tons
de azul, que instigam sons de amores, e cores de terras do sul.
Sabes da flor noturna do deserto que, despovoado da água e da vida,
esconde a ave eremita que em volta de si, em voo rasante, orbita, reaviva....
Sabes da sáfara calcorreada pelo beduíno...a erosão abandonou areia
e a areia abandona o chão. E o chão abandona o vôo, e a tua mão.
E a sereia que outrora cantava, sabedora de segredos do mar,
abandonou a cauda e, em redor do deserto, deixou-se
levar, em suave abandono; e a flor também quis;
e a vontade unida aos ciclos da lua, levou
o vento à rua...a tempestade começou
e deixou o encanto à porta.

(Susana Duarte)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

FUGA

Na música do encontro, bailam as notas da melodia
que, presas no mel da noite, e tocadas na luz do dia…
se desprendem de uma gota de chuva alheada do sol
...e se tocam nos ombros da tarde onde, lesta, se move
a pressa de sonhar.( A pressa de ter a tarde no rosto).
A vontade de mosto, em tarde de Setembro. O doce
suor de Maio, uma chuva de Novembro. (De onde és?)
Na uva sacarina de uma música que se sobrepõe a mim,
A fuga é o contraforte de sons abertos ao dia.(Melodia).
Notas que fogem de outras, em alegre consonância,
na alegria com que derramas a voz no toar da Canção.
Diafragma de uma debandada de aves inscrita na noite.
Apóstrofo de um diálogo. Ave solta. (Céu azul. E Evasão.)

Susana Duarte

domingo, 17 de abril de 2011

Canção do Ausente

Dançarei só.
Dançarei a voz de um conto
onde uma menina sonhava encantos
e as aves soavam encontros de luz e calor
e as brumas eram sempre içadas pela voz da paz
...e a paz era tudo, e era sempre, nas margens do rio.
Do rio de uma aldeia imensa, na voz da luz que a manhã
levanta, a menina canta e as vozes sussurram a dança futura
de um dia, um dia em que, talvez, a música do encontro não se chamasse

AUSÊNCIA


Susana Duarte

segunda-feira, 11 de abril de 2011

PLÚMULA

Deixarias que dormisse nesse pequeno recanto
onde a noite brilha no sossego de uma guitarra?

...Deixarias que a noite quieta se instalasse no canto
da noturna asa onde me escondo agora… calada
pela fulva pena com que escrevo palavras no vento?

Teu rosto, é doce tormento na doçura que escorrega
pelas asas do teu voo. Meu silêncio é o teu lamento.
Grifo-enigma que sobrevoa o deserto que nos segrega.

É implume o amor? Veste branca em noite azul-cetim?
Vestes reconciliadas de um voo que rema no lago de damas
de lendas, estórias vividas por homens-mulheres-por ti-e por mim…

Tectriz ou tristeza… choras a lágrima azul do viver-não estar?
Silêncio triangular de um rosto furtado ao sonho de uma cítara
que move as nuvens e as afasta de mim? Há cirros a pairar.

Nuvens de grande altitude que viajam na alegre vivência de mim?

Gaia. Gaia- mãe e Eu em Ti. Interdito. Entre-ditos. Entre-dedos.
Entre Ti-e- Mim. Entre-luas. Entre-ruas. Entre-nós. Entre-penas.

Plúmulas são momentos pacientes no calor de uma plumagem.
Nuvens altas de algodão que se escondem na aragem. Noite quente
de ave ausente, de si própria reprovada, terna noite só sonhada onde
a ave lança voo nesta noite de cetim… Volante e impressiva digital,
penosa paragem, coroa que orna os olhos e ilumina o momento mudo
remanescente de um momento plenário de flores nas estrelas. Rosa.

Rosa-pessegueira-navegante-de chá bebido-em poema feito prosa.

(Susana Duarte)See more

sábado, 9 de abril de 2011

NÁUTICO


NÁUTICO

Não me deixes afundar-te os sonhos.
__________________________________
Permite-me, apenas, que o piano soe,
...e entoe o bater descompassado de estar
na superfície de uma noite eternamente
tua. Noite eternamente…nua… eternizar
os dias e glorificar as noites de seda quente.
____________________________________
Não me deixes afundar-te os sonhos.
____________________________________
Deixa-me navegar na impossibilidade de ser
a proximidade anunciada que percorres em mim.
Na ausência de asas, voarei assim. Costeira…
Deslizo na pele do sono de um dia sem fim.
Percorrer o inavegável de uma esteira dourada.
____________________________________
Não me deixes afundar-te os sonhos.
____________________________________
Voltaria a ser a agitação que o vento procura.
Voltaria a ser sorriso em olhos de profundo céu.
Voltaria a ser flor de jasmim de mil anos de sol
no Oriente. Voltaria …conseguisse eu vogar em mim…
Afasia do mar. Impossibilidade de leitura das ondas.
____________________________________
Não me deixes afundar-te os sonhos.
____________________________________
Não me deixes. Afunda-me o mar das impossibilidades.

(Susana Duarte)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A noite descansa
nos olhos negros,
e os olhos descansam
em ti....
... aqui, onde reluz
...o brilho solar,
deitadas as vozes
sobre o chão
de um verde-luz-côr-algodão-
onde as Palavras moram
e as noites coram
e o azul do mar
deita a lua
no leito incerto
da loucura.


Susana Duarte

quarta-feira, 6 de abril de 2011

MARINHEIRO






Talvez pudesse navegar no azul marinheiro dos olhos
(onde a noite te tolheu de mim). Garça azulada de prata
nascida da luz cerúlea de uma noite sem fim. (Escolhos).
Baixio onde navegar saberia (a)mar. Água. Catarata.
Escorres do rochedo onde findam palavras. Onde finda
a sombra. Onde finda a penumbra. Penumbra de prata,
________penumbra de mim. Canto escondido_________
Lágrima furtiva que roubas do rosto, que revela o corpo
e se mostra como um fogo-fátuo que navega na escuridão.
_______A noite mostra-se tua. É tua a imensidão_______
… da cor saboreada, que tornou branca a aurora. Perco.
(Não sei em que rocha se escondeu a noite secreta do sentir.)
Não adivinho as palavras caídas no rochedo. Não sei do medo
de saber. Mas sei do medo da noite e do medo do medo.
__________________Talvez pudesse.__________________

domingo, 3 de abril de 2011

A hora dos amantes

deponho nas tuas mãos
o coração da noite
sabendo que,
depois,
nada
...sem
TI

(Susana Duarte)

quinta-feira, 31 de março de 2011

FÚCSIA

Pérolas miúdas na noite branca do sonho,
impedem as lágrimas de cair no manto azul
do cálido mar. Espraias-te em lamentos
...do que não foi. E entoas o canto do futuro.

(É nas pérolas dos teus dedos que deponho
O trunfo e a glória da noite que se avizinha.)
______________________________________
É em ti que acontecem estreitos abarcamentos
na ode cantada na rua estreita, onde és Comigo.
És Fado e és Canção. Turbulência e tremor, onde
dás as mãos a um amor que não queres mas És.

(É nesta rua que o canto se expande e o beijo esconde
a eterna vontade de estarmos sós, num sol-abrigo.)
________________________________________
É no abrigo da noite que não cantas em vão…
Cais… e vais para dentro de ti no cântico de anil
que a erva-doce emana. Coras de azul o coração
que, em mim, ainda habita. Uma parte dele voou.

(Suas asas curtas, ora habitam em ti. Voeja. E fica…
…coração de rémige altaneira que a si próprio habita.)
___________________________________________

____ Habitante de ti…augúrio em forma de ave._____

Rema na noite o arrepio emocionado do encontro e
da perca da sobranceira razão. Rua estreita que se alarga.

_________________________________
.voo a noite de mim.

.chave.
.TU.




(Susana Duarte)

terça-feira, 29 de março de 2011

Caminhos

Construímos caminhos em teias de diamante,
em percursos adivinhados. Em cada instante,
tecemos esperas e demolimos sonhos errados.
Reconstruímos aqueles que a ave-luz da vida
nos permite alcançar. E tecemos encontros.
...Amar. Perder. Encontrar. Tecer luzes em fios
de prata, em aros de ouro, em quadros-memória
e olhares que douro em tons de mel e de urze.
Na tessitura das águas que escorrem do olhar,
permitimos as flores do abraço e do beijo. Vida.
Árvore frondosa que floresce, sofrida. Vejo-te.
...e o caminho empreendido é a estrada do dia,
da chuva, do lugar escolhido, do futuro que via,
nas noites e dias dos lugares da infância. Sorria.
.......E era sempre noite. E era sempre dia........

Susana Duarte

domingo, 27 de março de 2011

LUNÁRIO






O tempo da noite,
dizem,
é a escuridão
… obscuridade.


Ao invés, na noite,
creio
residirem as luzes
da paixão
…e da saudade.

______________________________

…e a lua ergueu-se, redonda e clara.
Iluminou os amantes e a visão rara
De um azul cobalto que brilhou ali.
Vi o teu rosto, e no teu rosto, me ergui.

A música do plenilúnio, é um mundo
de cores. Elevação das flores na voz.
De mim, em ti, em mim me confundo…
Tens voz de quimera, fantasia veloz
que simboliza a perda da razão e da voz
com que um dia…um dia…gritei no precipício
onde a noite, deserta, tinha ido repousar…


A pergunta, urgente, da lua é: sabes amar?

(Susana Duarte)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Mel da noite
que escorre em
flor sobre
as luas das
noites das
...ruas
onde uma mulher
sozinha
exclama a terna e
pacata lucidez de
ser

em si bemol


Susana Duarte

quinta-feira, 24 de março de 2011

NOCTÍGENO

Há uma mulher que caminha.



Segura. Erguida pela fé de umas asas negras que



se desprenderam de um precipício.






A seu lado, um vulto solar. Cabelos



soltos de cavalo alado. Branco. Livre,



alado. Serenador?...




A mulher é dádiva de afectos,



mas pródiga de liberdade. Caminham lado a lado.



A mulher. O vulto. O cavalo alado.







Ela dá asas ao grito lancinante. Caminha



numa estrada onde o amanhã incerto a devolve



a uma estrada de pedras luminescentes.






Ela não sabe se saltará.



Ela não sabe se saltará.



Ela não sabe.







Mas é para lá que vai. Incertos



são os passos onde as pedras lhe asseguram



o chão difícil. Talvez, amanhã, talvez...







...o vulto alado a traga de volta



a si. A si. A si. A si…



Onde pára a alegria?







Onde vive a tristeza?



Onde mora o sonho antigo,



levado pela correnteza de um rio absurdo?...







Mudo.



Mudo, o sonho. Mudo, o caminho.



Talvez se trate, apenas, de um cruzamento.







É o cruzamento onde as margaridas



florescem. As magnólias perfumam a



noite. As fadas brincam com dedos de trigo.







O cavalo alado agita a névoa



e dissipa o precipício. É nele que habita



a estranha luz da noite azul.







A mulher caminha.



Caminha numa alvorada rosa.



Caminha com pés de rosas.



Caminha com pedras.



Caminha com flores. Caminha com sonhos.



Decidiu.



Vai saltar para as asas do cavalo branco.



Vai sonhar um sonho de madrugada.



Vai deixar o dia recomeçar.



Vai pela vida com dedos de seda.



Vai pelo caminho quetrilha.



Vai.



Vai.



Vai.











O vulto alado que a acompanha pacifica



a necessidade de precipício.



Anjo. Vulto indefinido. Cavalo branco. Ser alado.



Viagem.





(Susana Duarte)

terça-feira, 22 de março de 2011

LUMINOSA

O sol passou no equador, tornando iguais a noite e o dia.

Marulhado o teu olhar, em onda esguia de sal, no mar,

nasceu Poesia. Nasceu em olhos azuis apolíneos, calmos

de magnólia branca e perfumada. Nasceu de tuas asas

brancas, de criatura alada. Nasceu de gestos suaves. És.

Poesia. Encantamento. Meio-dia. Despojamento. És. Sol…



No ocaso que doura o céu de rosa e laranja, põe-se a luz

sobre teus joelhos. É poesia a cor dourada que serpenteia

um horizonte azul. Velhos. Velhos os sonhos e a luz da candeia

que alicerça a vista noturna de quem sonha a vida na ponta

de uma estrela, de um mundo de faz-de-conta e centelha

luminosa num olhar de poesia. Poesia e cheiro a mar. Maresia.



Em teus ombros iluminados, desce o sol que amou a noite.

Dizes…sonhas… iluminas a estrela que, em ti, pernoite. Luz

incandescente, de ave que ruma ao sol que se põe. Brilho lunar

que, em ti, se expõe. Poesia. Palavra atirada com uma flecha ao

infinito, onde sobrevive o grito das pupilas dilatadas e o grito, o

grito solar de quem ama o dia e, amando a noite, traz em si POESIA!







Susana Duarte

quarta-feira, 16 de março de 2011

Loa

Loa



De azul se vestiu o âmago de ti. E de ti se fez louvor num peito só.
Apologia das aves raras… vesti a cor do teu ser. Voei. Fui pó.
E refiz-me nas ondas de uma música cantada em ti. Pauta de um olhar...
__________________________________________________



Aura

Atalanta: borboleta e planeta. Voo e paragem. Contradição.
Descoberta de uma estrela em argo: borboleta e constelação.

Descobres em mim o ser vigilante da noite de outrora, noite
acontecida, argo de mil olhos, navio de ti no mar que ondeia
e, feito o dia no seio do luar, permites que - em ti- pernoite.

Pernoito na aragem que cicia um poema escrito por ti, aqui,
onde o meu corpo se fez fotografia do teu olhar-olhar-olhar
que trespassa a aura das estrelas. São flocos de ar teu, de ti,
na fresca aurora que o sopro da vida me deu a amar.amar.amar.

Cicias por entre as flores verdes de uma gema que flutua além,
onde a vida acontece agora. Noite de outrora. Noite onde estrelas
brincam em minerais de pó. Onde o pó arrasta memórias. Sombras.
Onde sombras vivem histórias. O que foi volta a ser. És, tu, também
a fonte antiga da aragem, a constelação longínqua, as aguarelas
com que pinto auroras boreais, estrelas cadentes e… a
Luz que és.

Susana Duarte

terça-feira, 15 de março de 2011

URÂNIA

Crisálida em flor numa manhã flutuante
..navegante dos rios dos rios onde se inventa
a luz rubicunda que se alimenta do instante;
o momento e o saber da eternidade fecunda,
no instante que se alimenta da luz rubicunda…

…e és Borboleta. Urânia brilhante, leve, divagas
na Aurora de uma noite anterior onde te sabes Luz,
Foste marinheiro de teus olhos em mim; paravas
a noite se a Noite fosse tua, para quebrares um feitiço
que da noite, te fez dia… e do dia, fez um esquisso…

Um esquisso é um traçado do que pode ainda ser…
um canto… um projeto… melodia do amanhã incerto
que em cada estuário de encontro, no rubro entardecer
quebra a lua do desenho onde inscreves o poema-maresia,
fluxo-refluxo de um Oceano em ti. Olhos- romã. Poesia.


...e és o meu Ontem, o meu Hoje e o Amanhã. Beijo
de ave, rosa de romã. És os tempos dos tempos de um dia
remoto, em que fui lua, falena, tempestade e maremoto;

…em ti, que me deixaste ser tudo, serei o riso que o sol
deixou; a borboleta que nasceu da crisálida; o mundo
que és, o mundo que sou. E em lenta albufeira de repouso




da areia….



encosta as tuas asas…estás na praia onde resides…



Susana Duarte

sábado, 12 de março de 2011

QUADRIFÓLIO

Nascem trevos das pontas dos teus dedos, e de teus trevos nascem flores
azuis. Dedilhando canções ou…trocando segredos, as flores são sonhos,
as flores são medos, litania cantada em noite de trovoada e as palavras…segredos
... ( de noites sem fim).

Segredos sussurrados onde demos a mão e seguimos na eira, povoada
por fantasmas de outra canção. Saio de ti, em ti saio de mim, e entro na água
que me percorre, no seio da lua onde deixei a Luz incerta abrigada
(e os trevos me deram a mão).

As barcarolas seguem caminho onde sonhei… nascem segredos da ponta
dos dedos. Fico de mão dada contigo, e de ti leio sinais. Sinais de passagem,
sinais de ilusão… sinais de sinais na ponta da mão onde o sol desponta
(e a noite entoa-te em mim).

Nas palmas, nas palmas das mãos, tens trovas invulgares e séculos de paixão,
cantados num Cancioneiro onde agitei a luz e te disse que estou aqui, de vento
na lua e dedos na alma, onde um sábio guerreiro parou e lavou a voz da solidão
(de trevos que nascem da tua, de trevos que nascem da minha mão).


És o Romanceiro onde o sol flutua e a noite é a voz que acalma o canto
da coruja. Pois és vida e saber, reflectidos na água, sussurrados na planície
onde a estrela branca do dia encantou e sussurrou a promessa e o encanto.
(E ali, jurou… ).

E da jura, nas pontas dos dedos nasceram trevos. Erva-do-amor. Flor
eterna, eterno trovador, que as asas do sol e o azul do mar, fizeram terna luz.

(Nascem trevos)
………………….das pontas dos teus dedos……………………

(Susana Duarte)

terça-feira, 8 de março de 2011

ACROAMA



Canta em mim, tangedor de sons de céus divinos em terras de terra finita…...
Diz-me. Diz-me a pauta das notas do calor de um céu de Verão na Alma.
Luzem os pirilampos na noite escura e calma. O metrónomo marca o compasso
e o passo marca o tempo, onde sem flor e sem aço, fazes em ti, em mim, aqui, um juramento de luz que refulge na tessitura dos olhares.
Qual é o verbo que conjugas em mim? Conjugas os verbos das flores, dos mares, do poetar. Conjugas os sons das baladas em que o teu olhar solta a maré sobre mim. Conjugas palavras de terra que germina. Derramas na terra o Ser que és: brilhar,para ti, é apenas um grito que vem de dentro e te leva a ser Céu em mim…
Ser no mundo. Ser assim. Fio de luz. Raio. Luar. Estrela… Ser em mim. Ser em ti. Ouves a canção que ouço? Um carme desfia as teclas de um piano imaginário. Impões a harmonia num sonhar de pele e de imagens, de mãos de seda e toques fortuitos, de harpa iluminada e cantos antigos, onde um baú deixa voar da terra-chão, a cor do trigo, a cor do mar, o verde prado, a jóia eterna, a luz do dia e o rosário desfiado no canto de uma sereia feita de limos onde desliza uma balada azul, azul, azul.
Como o Verão. Como tu. Sussurro-te, aí, na distância de um rio, no oxigénio partilhado, no sonho que me flutua…candeia acesa na noite. A alga flutua. Dá-me as mãos e poisa-as na lua. O CANTO HARMONIOSO que és procura a raiz do sonho que os lugares ocultam.

Desoculta-os com os olhos. Vão mais fundo que a raiz do mar. Deslumbramento.

domingo, 6 de março de 2011

VIATÓRIO


Vou percorrer os caminhos onde alamedas guardam as noites de lã

junto ao bívio onde se decidem caminhos e guardam romãs.

( a fruta vermelha e o céu irreal, onde o óbvio e o aparente se misturam).



Na viela tortuosa onde a linheira se encima à janela das flores

irei saber de todos os mundos guardados nos dédalos das cores

(e de todas as evidências dos meus sonhos que, pensados, se fraccionam).



Na eira, debulha-se o cereal que se multiplica na mesa, no pão e na casa;

lá, habita a ave que voa no arvoredo onde dormem o ovo e a asa

(e as cores das giestas sabem de cor onde os errantes viajam).



Estranha ladeira que percorre o chão da ave que traz no bico o algodão

com que teço as esperas num envoltório de pano bordado vivente na mão

(e as flores das romãs trazem os becos onde a noite cai e as ruas cantam).



Há um caminho onde trilhas a noite nas tessituras dos olhares pernoitados

e as ramificações dos dias são as noites do sol; onde os caminhos andados

são lábios que se beijam na ponta das estrelas que te habitam. Sabedoras de ti,

aves circulam pelas vias das flores que desabrocham na raíz do peito aqui,

onde trazes pétalas de rosas, pétalas de hibiscos, pétalas de frésias, pétalas ali,

no jardim das encruzilhadas dos jardins subterrâneos onde escondi as asas.



Na neblina, declina-se o verbo do teu ser. Nas asas da noite, o azul em ti.



A cada órbita, o sol és tu. Roteiro das bermas onde posso repousar.



Susana Duarte

Variação sobre Montaigne

Dizia Montaigne que

“a mais subtil loucura é feita da mais subtil sensatez”…



Talvez seja a cisão,

ou a corda tecida por Clotos, Láquesis e Átropos

(Nona, Décima e Morta)



Anjos ou Demónios ,belas damas fiandeiras

Plantas cegas trepadeiras



Talvez seja a profética loucura de que falava Sócrates,

Ou a loucura ritual do êxtase das danças..



A loucura amorosa como a lucidez cessante

Vento morno e vendaval.



A loucura poética das filhas de Mnemósine e Zeus



Criação, delírio, razão para além da Razão,

Ou a perda. Perda. Perda.

Alegria e insensatez.

Euforia. Lividez.



Contradição hegeliana. A loucura é.

Desejo, Salvação, Sanidade, Oscilação. Sombra.



Necessidade. … ou a foucaultiana necessidade de uma nova subjectividade.



Paradoxal heroísmo,de se saber Ser.



Louca sensatez. Insensata verdade.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Candeio

Foto: http://www.prof2000.pt/users/avcultur/sergiopsilva/engui0100.htm



É a hora das luzes das vozes das névoas

vozes feéricas de sonhos distantes

fadas duendes luzes sem fim, próximas do poema

distantes de mim.

É a hora das horas das luas e do sinal

do sinal de um relâmpago iracundo

gotas de chuva intensa que derruba a mágoa

limpando a poeira densa.

É a hora dos seres que a mitologia criou

das Ninfas, Sereias, Górgonas, Quimeras

longas noites de prolongadas esperas

sonhadas. Ventosas. Venturosas esperas.

É a hora da lua e do uivo da sereia e lobisomem

canto que divide a seara e o homem

assustadoras criaturas escondidas sob o manto

de ilusões ofendidas.

Ergue-se a voz e eleva-se o canto

espera-se a Noite e a sua permanente ilusão.



Quem ora aos deuses antigos adivinha-lhes a canção.



(É de noite que se pesca a fosforescência)

Susana Duarte

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Alinegro


Há um caminho oculto sob as pedras

levantadas do chão com esporas

que, iluminadas de fogo-ar,

queimam o sol das ervas.

Sob o arco do espanto,

arco iluminado de voz e canto,

entendes os signos e os sinais

multiplicados pelos ventos do afecto.

Sob as unhas guardo a pele

que tirei aos sonhos em dia de sol

e, numa noite sem fim, amei

cantando o verso solto que sai de mim.

Escorre água sobre as pedras

que, lisas, escorregam em si sonhos

de paz. Seixos brilhantes

sob a luz que ilumina as asas.

Pedras luminosas que escorrem luz.

Luz nascente de jasmins em flor.

Flor do canto do espanto do sonho.

Sonho do caminho dos passos que dou.

Dou. Espero. Sonho. Exijo. Quero.

Quero o caminho aberto sob as pedras,

Levantadas do chão com a leveza

da estrada solta sob os meus pés.

Há azul no meu chão. Há azul no meu céu.

Há azul intenso a clarear o breu.

A noite cessa e, logo, a manhã dealba.

Talvez, hoje, o real seja meu.



(até lá, vou procurar as asas)


Susana Duarte

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Flórula





A flor é uma época bordada num desenho.

Um poema no deserto que desejo e não estranho.

Uma miragem e um oásis numa mesa onde, nua,

uma jarra pontifica um reinado de sombra

- e lua.

A flor é um poema e uma estrada por fazer.

Uma rara atmosfera que dilui o desprazer.

Uma estrela azul ornada de sonhos diurnos,

densos. Uma névoa que se dissipa

sob o toque de dedos tensos.

A flor é uma côr, um desejo, a exaustão.

Fina, frágil, breve e doce fluir de sonhos

e paixão. Uma suave melopeia - rítmica, sussurrada-

Construção harmoniosa de uma casa habitada.



A flor é um dédalo onde, caminhando,

o desabrochar é um momento. Um mapa

de linhas cruzadas no mar de um raro encantamento.

A flor é um poema floricoroado. Um avistamento,

uma fragrância. A sensação de ter chegado.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CHEGADA



Caiu de uma nuvem: uma chuva de chá de flores de jasmim.
Flores de flores de chá, flores de flores de mim. Agitou-se uma torrente
de névoas pálidas, perfumadas de caramelo, numa nuvem de odores.
Odores de névoa. Odores de ti em mim, odores de ti em mim… odores
de suaves flores de algodão num céu branco, feito de luzes azuis, onde
a sombra se remete ao profundo inverno de um amanhecer do norte.
És feito de luz, de luz de luzes de um sonho sem fim. De sonhos de vida,
de sonhos em mim. Caiu, de uma nuvem, uma chuva de chá de flores de jasmim.
Caíste de ti, e ficaste em mim. Sonho do sonho de flor do inverno, eterna luz,
eterno azul, perpétuo movimento do teu corpo aqui. Agita-se a pele, no encontro
do sonho, presença de calor num dia criativo de fotos de Luz, de fotos de água,
de fotos de névoas, de fotos de um sol que não termina aqui… põe-se o sol no mar.
Põem-se teus braços no pescoço de cereja que se encosta ao céu. És tu, aí,
prisioneiro de um olhar feito de terra negra e flores de algodão. Flor. Ave. Coração leve.
……………………….porto de chegada……………………….

( Susana Duarte)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

LUCERNÁRIO

Há uma cor cujo significado és tu. Uma danaide passeia
no teu rosto, abandonando o dia que foi seu.
Paira sobre nós, numa balada, entoada aqui.
Marulhada. Frágil sob a força das ondas.
Uma rocha caiu. Há um som de precipício no breu.
O crepúsculo da alma cede lugar à fantasia.

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Há uma balada cantada pela noite
e uma incandescência que o luar acendeu
na rua. A voz mumurejada de uma ave nocturna
incomoda o silêncio que se entreteceu.
Passeamos lado a lado numa efabulação
diagonal ao ser. Procuramos o sonho.

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Há uma alegria que habita os passos que dás.
Colhes borboletas na brisa nocturna e dás-mas na mão.
Habito um castelo longínquo onde um ser alado
almeja chegar. Fluviária. Aquática. Aérea.
Deixa-me ser assim. Cantora breve de auroras boreais.
Deixa-me sorrir à lua, ler-lhe a mensagem, entender os seus sinais.

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Vermelho. Renomeia as cores. Faz brilhar o canto
das sereias que te encantam. Cria. Ágaro. Albatroz.
Vou contigo além-mar. Na noite que termina.
Nix, a deusa da noite, sua rainha, habitante do extremo oeste,
permite-nos o sonho em que o incosnciente se liberta.
O meu OFÍCIO DA NOITE é limitar-me a recriar.

SUSANA DUARTE
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domingo, 20 de fevereiro de 2011

ARAUCÁRIA

Fragmentos de noite terminam aqui, quebradas as asas do som
das imagens rasuradas que deixaste atrás. Os pensamentos são
incandescências que libertam e deixam fluir; cada seixo tem o dom
de fragmentar o rio, a rocha-mãe, a eterna e inevitável solidão
de um cálamo. Ocos são os entrenós. Ocos são os inevitáveis adeus.
Canta-se uma rapsódia de pedra e saliva, onde o teixo sorve a água
e se torna arco de guerra. Da rapsódia da noite erguem-se os teus
flocos de chuva quente em que se enrola e aquece uma antiga mágoa.
Mágoa de tempos, odores-canela, chuvas frias de noites sem fim.
Em Fevereiro, florescem acácias. Do amarelo-inverno que irrompe delas,
renova-se o voto de um florescer sereno, enquanto na chuva de mim
se esconde o dia e acontece a noite. Uma gema de mim. Abro janelas.
Quem quer saber das cores da lua não se esconde no rio. Alecrim perfumado.
Alegria e frutas. Resina. Ar. Árvore rosácea. Suspito profundo. Mundo.
Mundo em mim. Ode eterna. Canção alada. Mar revolto que serena.
Canção de gotas de fogo e mel. Flores de anvula. Precipício, mar… vou fundo
na percepção, que muda cada estrela e transforma o sonho numa míriade terrena
de estrelas onde os campinos elevam as flores da planície ao alto das montanhas geladas de algo antigo, que reluz sob as sombras de uma araucária alada.
A descoberta de si fica para além do sonho. Eterna e contraditória busca da exatidão do SER.

( Susana Duarte)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Fosfenas


Os olhos florescem nas encruzilhadas da noite.
Claros, celestes, enrubescem nas asas cerradas do voo.

As palavras soltam-se dali, do reino de todos os cantos.
Livres-soltas como águias alienadas da terra

(como se o espaço universal fosse todo teu)

Os olhos vagueiam nas horas em que a incerteza se faz luz.
Luminescentes, encandeiam as flores com que te abraço.

…cristalino desatento às sombras. Teus olhos são luz.

As fosfenas (imagens luminosas que a pressão dos dedos deixanos olhos)
São caleidoscópios de sol que atravessa o caminho.

( ... o dia regressa e será tempo de Olhar; a noite desce sobre ti
e, de dentro do teu olhar,
Magna noite, Magno Dia,
será tempo de cerejas e de o Tempo regressar).

Susana Duarte
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