domingo, 24 de fevereiro de 2013



AR

beija-me os olhos marejados de ausências,

e ausenta-te de ti, como se na fantasmagórica 

sombra que da ausência emana, pudesses voar

até onde te esperam as flores dos seios brancos

de camomilas lançadas ao vento, às nuvens, às 

luzes das ondas, às bordas dos sorrisos, e às cálidas

águas dos ventres. ausenta-te de ti, e sonha-me,

navegante flávio dos meus cabelos negros, negros 

das sombras que me habitam, onde tu não estás.

______________tento respirar__________________


Susana Duarte





ESCREVER-TE

vou escrever-te nas ondas suaves dos cabelos, e dos promontórios infinitos das tuas sobrancelhas. passeio na ponta de uma pestana viajante e deslizo por sobre as veias do rosto. nesse rosto, encontro as luas de todas as sonatas escritas na solidão das águas. vou escrever-te onde sabes que estão as aves-do-paraíso e as rosas-chá que declino em palavras suaves. vou escrever-te nas leves rugas dos lábios, onde as marés me alcançam quando me toca a húmida suavidade da tua boca. é na tua boca que encontro os rios todos do corpo. é na tua boca que deslizo quando, em horas incertas, me refugio na navegação azul das lágrimas. e é por ela que me escondo nas partes incertas dos dias. vou escrever-te na navegação das línguas e no incerto movimento das costas. vou escrever-te onde sei das tuas sombras, e onde me resgatarás das minhas. na tua mão, andarei milhares de anos, de vidas incertas, anteriores a nós. procurar-te-ei em todos os recantos da vida-demanda dos desertos-corolas de flores incertas. 



Susana Duarte




NOME


Nuvens são ilhas que navegam sobre mim.
Brancas-claras-luzentes, sentimento sem fim
de um poema que se desfaz nas letras
_____________do teu nome_________________


As montanhas são pálpebras que se abrem na manhã.
Recebem em si as nuvens transformadas no amanhã
que persigo nos teus olhos, que me falam
_____________do teu nome__________________


Nuvens são círios que me acendem a noite:
luzes-brilhos-viventes, casas onde pernoito
e encontro o brilho-claro-desejoso e ardente
_____________do teu nome__________________


Nas histórias da vida, vivem-se rapsódias de amor.
Nelas, encontra-se luz, brilho, sol e calor.
Nelas, sei-me gente, sei-me flor e sei-me luzente


_____________nas letras completas do eu nome_____________
____________nas pálpebras que se abrem no teu____________
__________na harpa dedilhada na harmonia do teu nome______


Poesia que acontece na luz.
Nome que me ama e seduz.


                                                                                  TU.


Susana Duarte
do livro Pescadores de Fosforescências
ISBN: 978-989-8590-02-2
Edição: dezembro 2012
Editora: Alphabetum - Edições Literárias
Autora: Susana Duarte
Prefácio: Maria Elisa Rodrigues Ribeiro (poetisa)








ASAS


escrevo-te sobre os poros___________e sob a pele,

enquanto me habitas as sombras____e os recantos

luminosos____________________de noites antigas 

são antigas as ruas onde passámos_________vidas

inteiras, abertas, marinheiras_____do infinito luzente

______________que nos habita o centro do corpo e

o centro_______da vida, e o centro dos olhos_____

serias a águia e o grito______a água e o parto____

se, querendo, me quisesses._____se, querendo, me

_______amasses as terras longínquas de onde sou. 

serias, se quisesses, as asas todas do meu corpo.





susana duarte


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Susana Duarte foi notícia no Jornal de Letras
06/02/2013
"Susana Duarte

Ao contrário do fama de bom, Pescadores de Fosforescências traz todas as indicações: Susana Duarte (SD), autora, 39 anos, é psicóloga, em Coimbra, este é o seu livro de estreia e a editora, Alphabetum, diz pretender "apostar em novos talentos". Assim, descobriu versos de SD num blogue e no facebook e desafiou-a para este volume, que abre com uma citação de Maria Gabriela Llansol, após um prefácio de Maria Elisa Rodrigues Ribeiro - que, como os versos, não nos parece ter a ver com a autora de Um beijo dado mais tarde. Os poemas são em geral longos, transcrevem.se dois dos mais curtos: "A tristeza é um túnel escavado no peito/... peito que escura, noturna queda/que me alberga/ na incandescência da luz/ que se avista/ ao fundo do leito e. não existo./ não sou mais do que o eco ambiguo de uma noite sem voz/ uma noite tirou-me o sonho,/ outra noite tirou-me a voz/ . não me resta senão diluir-me nas marés."
........
Susana Duarte
Pescadores de Fosforescências
Alphabetum, 160 pp, 15,50 euros"

IN JORNAL DE LETRAS pág. 19 6-02-2013

Alphabetum Editora

Para quem quiser saber mais sobre o livro Pescadores de Fosforescências, de Susana Duarte:

http://www.facebook.com/PescadoresDeFosforescencias


...sobre a Alphabetum Edições Literárias: 

http://www.alphabetum.pt/

Sobre Susana Duarte:  

http://www.alphabetum.pt/index.php?go=detalheautor&autor=10 


Sobre uma foto de Michel Debruille


Verbo 


um dia, saberei conjugar todos os verbos 
-mesmo os verbos de ser arriba 
escarpada
sobranceira-
e, ao conjugá-los, saberei onde estás:


manhã orvalhada de todas as palavras
de antes, desfloradas em neblinas 
onde gotas de geada quebram folhas
suaves, lentas folhas
de chuva antiga
que me acende (caminhos?)

conjugo o verbo-palavra mitigada
pelo bater de asas suave 
da leve 
ondulação das águas
e, ao dizer da eloquência
dos sons, procuro ainda.

procuro o abrigo das asas

rectrizes de todos os uivos,

voos lentos dos meus braços curvos.


Susana Duarte











http://www.facebook.com/photo.php?fbid=292130554247216&set=a.121939721266301.17345.100003508225215&type=1&theater

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


Caminho


caminho costeira
por onde passam gritos,
através das rochas, areias e granitos
e das conchas despegadas de sonhos e madrugadas.



caminho sobrevoando rios, onde
confluem ritos de primaveras floridas,
rosas-chá do deserto do vento, cantando gotas
de suor sobranceiras, caindo sobre ombros escondidos

do mar.



caminho navegando as ondas
da tua serenidade alada, seda lavrada das noites
e dos olhares marginais das borboletas. sobre as asas
caminho, e sobre o caminho, perpetuo imagens de urdiduras

de mãos que se tocam.

Susana Duarte


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


pudesse eu conhecer a força dos trigais, semente
escondida nas névoas das casas e dos beirais das ondas...onde
sorrisos erguem muros, e muros destroem casas...pudesse eu
saber da força das papoilas, rubras-serenas-frágeis papoilas,

e as águias seriam voos lentos de olhares incautos, e os cantos,
apenas entoações das alturas da alma desabrigada de si, no

silêncio

fugaz de todas as coisas que não se dizem. pudesse eu ser silêncio,
e teria asas onde os seios erguem suaves ondulações de ar

respirado, ou naufragado, ou soturno. soturno ar desabrigado das encostas
onde apoias os olhos e serenas todas as marés violentas dos dias.



susana duarte

sábado, 2 de fevereiro de 2013





poderiam ser palavras minhas,
as que semeio nos bancos do tempo.
consumimos dias como consumimos noites,

e os dias foram tão breves,

e as noites, tão leves,

despidas de sono, despidos nós.

poderiam ser palavras minhas,
as que deposito na gloriosa sabedoria da lua,
milenar, pedra angular de todos os rios, navegada
por nós sobre os ângulos frios do antigo desconhecimento.

poderiam ser tuas as frases saídas das pálpebras,
onde o azul renasce, framboesa da minha boca,
com a qual colho sons e sonhos e água e sementes

com as quais me dirijo ao vento
e floresço amora-beijo-cais das colunas do desejo
e flor noturna onde te deitas e sabes. poderiam

ser flores, as palavras e o peito, crescente lunar
de uma nuvem que alcanço em ti.

susana duarte