quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Poema decadente




poema:
lexema 
desenhado nas costas das mãos;

costas 
no ventre,
enfrentando a solidão.

poema:
mulher escrita no chão.

vento norte.

mulher-poema:
ventre-eterna solidão.

poema escrito nos olhos,
sopro de vida nos dedos,
manhã de agosto

a contragosto

antecâmara do desgosto.

não existes, aí, para onde foste,
ainda que creias ter reescrito 

o poema 
dos teus dias.

sonhaste.
mais depressa fugirias.

fantasma lúgubre dos meus dias.

tu, que não voltas:
poema decadente nas mãos da mulher
escrita no ventre.

Susana Duarte

sábado, 26 de dezembro de 2015

as aves dos desacertos



as aves solitárias agarram as pálpebras
por onde os sonhos habitam os cílios,
e colhem madrugadas vãs,
apesar das neves eternas
e das névoas claras


e, assim, revelam as águas
e as tormentas

e erguem os sons ásperos
das línguas.

são as aves dos desacertos,
e das memórias.



quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

terça-feira, 22 de dezembro de 2015



leve solidão dos ombros


que percorres 


como num desmaio:






grito







Susana Duarte

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

somos aves. somos flores. somos mágoas.somos névoas dissipadas. somos fráguas. densas rendas desenhadas sobre o vento. densas lendas desenhadas no desalento. densas aves desenhadas no papel. suaves flores. suave mel. somos ausência. somos dúvida. somos dor. somos obra vasta, penhor das nuvens, borboleta. somos a renda escavada numa gruta. desenho leve das águas. lenta dúvida que se desfaz. trégua na noite. suave onda. somos estrela alva na aurora desfolhada. breve canção, montanha escalada. somos a folha e a gota de orvalho, a fada etérea e a rocha e o galho. somos teixo, égua, albatroz. somos fruta. somos noz. somos deserto nas noites coalhadas. somos água e bico e sede. somos tudo. somos nada. somos vida. somos morte. somos acaso, destino, sorte. somos deuses e maçãs. ruas. estradas. manhãs. somos eu, e somos tu, e somos um e outro, cada um do outro. somos a vida. somos a morte. somos cítara e somos sorte. música, fuga, escarpada. somos tudo. somos nada. somos a soma de todos os outros, antes de nós. a voz das fontes, a voz da voz. somos um, e somos outro. e descobrimos a fonte da vida, na água que jorra da boca de cada um. somos infindos. somos unos. somos, sobretudo, quando somos juntos. abraço o teu infinito. somos aves. somos flores. somos céu. desdobra-te em mim. despoja-me de mim. sejamos o começo. e o fim.


susana duarte

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O que é a Poesia? 
Uma cumplicidade entre a nossa loucura e a lucidez de Deus.

João Tomaz Parreira


Poema da foto: José Tolentino Mendonça

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

In loving memory.




Monica dos Santos Tai



13 de Dezembro 1971-15 de Dezembro 2015

domingo, 13 de dezembro de 2015




Inquietas, as aves virgens
liquefazem a espera 
nas linhas curvas




da noite sem voz.


Susana Duarte

sábado, 12 de dezembro de 2015




Encontrei-te.
Não me viste.

As asas falharam o voo.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015




... una historia basada en el azar fue presentado hace unos días en la librería conimbricense de Miguel de Carvalho, uno de los principales centros mundiales de reunión de las huestes surrealistas ..."







http://surrint.blogspot.pt/2015/12/seixas-peixoto-de-pie-sobre-el-huevo.html?m=1


http://surrint.blogspot.pt/2014/10/senales-del-cabo-mondego.html

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

“I am convinced that human life is filled with many pure, happy, serene examples of insincerity, truly splendid of their kind-of people deceiving one another without (strangely enough) any wounds being inflicted, of people who seem unaware even that they are deceiving one another.” 


terça-feira, 8 de dezembro de 2015



O AMOR AUMENTA

o amor aumenta com o amarelecimento do linho
maior quietude rodeia agora a casa lunar
soçobram do fundo dos espelhos submersos os instrumentos
de muitos e delicados trabalhos
repousam sobre a erva para sempre
só o desejo dalguma eternidade despertaria o terno arado
mas a vida tropeça nos húmidos orgãos da terra
as selvagens flores afligir-te-ão o olhar
por isso inventaremos o necessário ciclo do outono
a noite dilata a viagem
pressentimos a nervosa luta dos corpos contra a velhice
mas nada há a fazer
resta-nos descer com as raízes do castanheiro
até onde se ramificam as primeiras águas e se refaz o desejo
as bocas erguem-se
procuram um rápido beijo no éter da casa


Al Berto



sábado, 5 de dezembro de 2015

o teu corpo



o teu corpo                                            é no teu corpo


que incendeio o verbo                                      e colho

a tempestade                                               das mãos




descubro, nelas,                                           o latejar

das luzes                          secas                 as palavras

                                                                  e o corpo






o meu,                                          na memória nua

com que te deito                                     os braços


e me cubro                                                  e vivo.




Susana Duarte

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

no negro dos lábios, a vida


no negro dos lábios, a vida
toda. na boca dos cabelos, 
a imensidão das noites. 
sem querer, conto as auroras
perdidas de quem sou.


na leitura das linhas, perdida
foi a boca. o que se excede
não é nada. apenas a sombra:
ave sem rectrizes. onda. eu.

Susana Duarte