domingo, 8 de abril de 2018



as aves solitárias
moram na bainha das folhas,
e migram através das nervuras,
e desfolham-se no limbo.
atravessam pecíolos, 
e navegam ondas de som
desfocado. as aves solitárias
moram nos espinhos achatados,
mas almejam a endoderme 
do sonho. moram 
na endoderme do sonho.


Susana Duarte

terça-feira, 3 de abril de 2018



segmentas a noite
traçando caminhos dúbios
onde se sagraram primaveras,

elas próprias desprendidas
do hálito das flores. talvez 
sejas a lua, talvez a noite
-ela própria fracturada-
que se desvia das manhãs


e procura a fresca linha 
radial dos encontros

dos olhares.




vou sentar-me sobre as costas
dos teus olhos, 
e ver-me através deles, sedentos 
das névoas 
das minhas madrugadas.


vou sentar-me sobre
os teus braços e, através deles, 
rever encostas
onde os seios te abraçaram,
e foram eternas
as inermes mãos sobre o dorso.

vou sentar-me
sobre as dobras da tua voz, 
onde o silêncio
me chama e a língua me conquista. 
sobre ela,
desfazer as névoas que, junto ao rio, 
pairaram, no instante do atrevimento.

a língua de fogo
dos teus dedos, sobre a língua de fogo
da água que sobre ti se deita, 
exclamando 
todas as noites
de todas as idades, 
desfiguradas pelo silêncio 
que, sob a chuva, se abateu, pronto 
que estava o sorriso dos lábios, 
pronta a boca
para, sobre ti,

pairar e, ali,

depositar o dia.

Susana Duarte